Na foto aparecem jovens estudantes de escolas secundárias, com terno azul e gravata. Acompanhados por um regimento de soldados usando uniforme histórico, caminham pelas ruas centrais da cidade portando aos ombros um grande quadro de Nossa Senhora. Tudo indica que se trata de algo não moderno, apenas uma foto para matar saudades.(1)
Mas se o leitor assim pensou, enganou-se rotundamente. Não só é recente a fotografia, como extremamente moderna, pois se trata da procissão de Nossa Senhora dos Milagres de Santa Fé, na Argentina, que se realiza todos os anos no mês de maio. A foto é de 2009, mas neste ano o cenário foi o mesmo. Esperamos que assim permaneça por muito tempo — e certamente perdurará se prevalecer o gosto dos fiéis, e não o de certos clérigos e autoridades “modernos”, “atualizados”.Para mais de um decepcionado modernista, que encara como pontos obrigatórios de referência os pseudo-valores da revolução hippie de maio de 68, a foto é uma surpreendente comprovação de que muitos jovens não seguem o que a imprensa apresenta e sugere como modelos. Bem ao contrário disso, eles se sentem atraídos pela tradição, palavra odiosa para tantos dos envelhecidos e encarquilhados hippies de ontem, que a desejariam abolida.
E a tradição — do latim tradere, ou seja, transmitir — tem como um de seus elementos essenciais a verdade. Aquilo que é falso morre com o tempo: um falso progresso se deteriora; uma falsa popularidade se dilui. Mas permanece o que é verdade, o que todos aplaudem e aceitam como verdade, apesar de problemas que surjam ao longo do tempo. É o que nos mostra a história do quadro de Nossa Senhora dos Milagres.
Um milagre documentado que muitos viram
Os habitantes da cidadezinha de Santa Fé, no interior da Argentina, discutiam freqüentemente no longínquo ano de 1636. O tema não podia ser mais pungente: era necessário trasladar a cidade para outro local. Escolhido aquele lugar em 1573 por Don Juan de Garay, para ser um porto intermediário entre os grandes portos de Buenos Aires e de Assunção, este no Paraguai, constatou-se depois que apresentava problemas: grandes inundações periódicas; outras vezes era a praga dos gafanhotos que destruía as colheitas; e havia também índios selvagens que assolavam os arredores.
Nesse ambiente conturbado, o sacerdote jesuíta Pedro de Helgueta, num dia 9 de maio que parecia tão comum como os outros, terminou de rezar sua Missa diante do quadro de Nossa Senhora da Imaculada Conceição. Pintado dois anos antes, com pouco mais de um metro de altura e outro tanto de largura, encontrava-se o quadro num altar lateral da Igreja do colégio jesuíta. O sacerdote rezava diante dele quando percebeu algo curioso: a parte inferior parecia ter-se molhado. Aproximando-se, verificou que a parte superior estava totalmente seca, e a inferior totalmente molhada. A água, como se fosse um suor do quadro, não só o molhava, como também escorria para o altar e até o chão.
As pessoas que estavam na igreja se aproximaram para ver o que acontecia, e numerosos foram os que pegaram algum pano ou algodão e começaram a recolher a água. Como se pode prever numa cidade pequena — especialmente naquela época em que a TV, o rádio ou a internet não desviavam a atenção das pessoas — uma notícia tão singular correu de boca em boca. Foram tocados os sinos, e todos corriam à igreja para confirmar a veracidade do que se dizia.
Apareceram as autoridades. Entre elas, a que mais nos interessa é o escrivão do rei, Don Juan Lopez de Mendoza, que corresponderia hoje a um tabelião cujos documentos têm caráter oficial. Além dele, o vigário e juiz eclesiástico Hernando Arias de Mansilla, maior autoridade eclesiástica da cidade; e também o Tenente de Governador e Justiça, Don Alonso Fernandez Montiel, maior autoridade civil.
Tendo o fato acontecido numa igreja, correspondia ao vigário comprová-lo. Para isso ele subiu no altar a fim de tocar com a mão o quadro. Se o tal líquido fosse uma tapeação — algo oculto atrás do quadro — ele o perceberia. Pelo contrário, o fenômeno permaneceu quando ele pôs sua mão no quadro, e a água apenas mudava de direção. O pintor Juan Cingolani pintou a cena do milagre, num quadro hoje famoso.(2)
O fenômeno durou cerca de uma hora, e as autoridades assinaram uma ata que se conserva até hoje na igreja jesuíta. Poucos dias depois, um bispo de passagem pela cidade, ouvindo a história, realizou uma investigação e concluiu pela veracidade do milagre.
O povo começou a utilizar os algodões e panos em que tinham recolhido o líquido, para pedir graças especiais. E elas foram concedidas abundantemente, fato igualmente registrado pelo escrivão do rei. Como conseqüência, o quadro que representava a Imaculada Conceição passou a chamar-se Nossa Senhora dos Milagres.
A história continua
A cidade teve de ser trasladada para outro local a 80 km de distância, onde os jesuítas construíram nova escola e igreja, e nela colocaram o quadro de Nossa Senhora. Com o fechamento da Companhia de Jesus, no século seguinte, severas leis proibiram absolutamente quaisquer atos de culto na igreja, que teve de permanecer fechada durante 95 anos. O tempo seria mais do que suficiente para se esquecer toda devoção à imagem, mas não foi o que aconteceu. Por insistentes pedidos dos fiéis, o quadro foi tirado da igreja e levado para a catedral. Retornou à capela quando a escola foi reaberta, e hoje o conjunto pertence aos padres jesuítas.
Em 1936, quando se completaram 300 anos do milagre, o Papa Pio XI autorizou a coroação canônica da imagem, que após a cerimônia foi colocada no altar-mor da Igreja. Lá ela se encontra, e é retirada todos os anos para a procissão.
Quantos outros acontecimentos históricos “inesquecíveis” já foram esquecidos, depois de temporariamente propalados pela mídia revolucionária da época. Para tristeza dos promotores dos anti-valores de maio de 68, por exemplo, nenhum jovem sai à rua para comemorar a data dessa rebelião estudantil. Nenhuma procissão de jovens pelo centro da cidade para lembrá-los. Mas aquilo que verdadeiramente tem raízes e tem tradições de família, isso permanece. Para a procissão de Nossa Senhora dos Milagres, lá os jovens se encontram. Até os que se declaram incrédulos poderiam receber algum benefício e esclarecimento, vendo essa procissão, pois contra fatos não valem argumentos.
Oração à Nossa Senhora de Guadalupe – Padroeira da América Latina - (12 de dezembro)
Ó gloriosa Mãe de Deus, Nossa Senhora de Guadalupe, padroeira da América Latina: Abençoai esta casa e a família que aqui reside.
Protegei nossos filhos, livrando-os das maldades e dos perigos deste mundo. Guardai nosso lar, escondendo-o dos olhos dos maus. Que nesta casa o nome de Deus seja sempre invocado com respeito e amor. Que os seus mandamentos sejam observados com fidelidade. Que vosso bendito nome, ó Mãe querida, seja sempre lembrando com muita devoção. Que a palavra de vosso Filho Jesus seja sempre meditada e seguida todos os dias de nossa vida.
Honra, louvor e glória ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo: Trindade Santíssima.
Amém.
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