quarta-feira, 11 de maio de 2011

O Preço do Desprezo

"Quando ele era ainda criança
O seu pai lhe abandonou
Mandou sua mãe ir embora
Jogou-a de porta à fora
Sem sentir nenhum rancor

O motivo do desprezo?
Um preconceito doentio
O bebê tinha pele escura
Ele, sem nenhuma ternura
Mostrou ter um coração vazio

Ele era um fazendeiro rico
Não sabia o que possuía
Para a esposa ele falava
Que o que mais desejava
Um filho era o que ele mais queria

Quando a esposa engravidou
Foi contar-lhe a novidade
Ele pulava de alegria
Sorria, cantava e dizia:
'É a maior felicidade'

Convidou alguns amigos
E deu aquela festança
Gastou muito dinheiro
Festejou o dia inteiro
Em homenagem à criança

Cuidava bem da esposa
Com ela ao médico ía
Guardava com muito carinho
A foto do bebezinho
Tirada em ultra-sonografia

Nove meses se passaram
Chegou o grande momento
Ele na sala de espera
Angustiado feito uma fera
No maior desalento

Quando o bebê nasceu
Foi grande a sua surpresa
Esperava um menino claro
Naquele momento raro
Foi triste a sua tristeza

O menino era escurinho
Para a sua decepção
Com o peito cheio de dor
Esqueceu-se do amor
Que havia no coração

Numa ira violenta
Fugiu do hospital
Nunca mais o filho quis ver
Não queria nem saber
Se estava bem ou estava mal

A mãe no desepsero
Não sabia o que fazer
Com ajuda dos amigos
Enfrentou muitos perigos
Pra ver seu filho crescer

A mãe angustiada
E sem nenhum sossego
Saiu pelo mundo à fora
Aquela triste senhora
À procura de um emprego

Na primeira opurtunidade
Sentiu uma dor no peito
O patrão a desprezou
Por causa de sua cor
Que infame preconceito!

Voltou pra casa chorando
Com o coração ferido
De lutar nunca deixou
Por causa do grande amor
Por seu filho querido

Noutra empresa ela chegou
Toda envergonhada
Um emprego então pediu
O patrão lhe sorriu
E ela foi contratada

Aquele homem humilde`
Porém, rico como o quê
Tornou-se o seu patrão
E tinha no coração
Amor pra lhe oferecer

Eles se apaixonaram
E começaram a namorar
Em pouco tempo depois
O amor que havia nos dois
Levaram-nos a se casar

Aquele homem bondoso
Adotou, então, seu filho
Que por toda a sua vida
Que achava tão sofrida
Encontrava um novo brilho

A criança foi crescendo
Com muita sabedoria
O pai com paciência
Ensinava-lhe a decência
A paz e a harmonia

O menino então cresceu
Se tornou muito educado
Honesto, trabalhador
E por isso se tornou
Um homem respeitado

Formou-se na faculdade
Em administração
Sua mãe toda orgulhosa
Sensível feito uma rosa
Chorava de emoção

O seu pai idoso e fraco
Disse: "Filho vem cá.
Já estou muito cansado
Hoje fico aposentado
Não posso mais trabalhar

A partir de hoje, meu filho,
Você será o patrão
Você é inteligente
E muito eficiente
Não haverá decepção."

O filho com humildade
Aceitou preocupado
Mais com muita eficiência
E muita diligência
Dava conta do recado

Certo dia no emprego
Chegou um homem angustiado
Chorando feito criança
Vivia sem esperança
E era muito maltratado

Ajoelhado e tremendo
Foi falar com o patrão
E disse àquele moço:
"Por favor, dá-me um almoço
Não tenho outra solução

Para não morrer de fome
Vivo pedindo comida
Mas nem sempre foi assim
Acredite, acredite em mim
Já tive uma outra vida

Eu era um fazendeiro rico
De tudo tinha um pouco
Tinha uma fazenda de gado
Manções, carro importado
Comprava e não recebia troco

Mas isso tudo acabou
Hoje eu moro na rua
Sem família, sem parente,
Com fome, fedido e doente
Durmo olhando pra lua

Sei que tenho um filho
Mas não sei onde ele está
Não assumi o compromisso
Talvez seja por isso
Que hoje vivo a penar

Quando ele, então, nasceu
Mandei sua mãe ir embora
Por causa de sua cor
Hoje sinto muita dor
Pois não sei onde ele mora"

Sua mãe, então, chegou
E viu aquela cena
O homem ali de joelho
Ficou todo vermelho
Ao ver aquela morena

Era aquela mulher
Que um dia ele abandonou
Belamente, bem vestida
Havia vencido na vida
Depois que ele a desprezou

Ela disse para o filho:
"Este homem é teu pai.
Quem não tem amor no mundo
Sofre feito vagabundo
E na vida logo cai"

O filho, então, dividido
Não sabia o que fazer
Se socorria aquele homem
Que estava morrendo de fome
Ou se o deixava morrer

Saiu por um momento
Da sala onde estava
Em pouco tempo voltou
Chorando o pai encontrou
E ele até soluçava

O pai tremendo de medo
Chorando de emoção
Ajoelhado arrependido
Disse ao filho esquecido
"Filho, te peço perdão!"

Aquele filho amoroso
Do seu sofrimento esqueceu
Perdoando aquele troço
Que ali cheio de remorso
Segurando sua mão, morreu!

Meu caro leitor
Preste atenção no que vou falar
Não se despreza a família
Esposa, filho ou filha,
Sem um alto preço pagar!"