segunda-feira, 9 de maio de 2011

Assunto: A obsessão-lindo texto

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* **Leila Ferreira é uma jornalista mineira com
mestrado em Letras e doutora em comunicação em Londres.
Apesar disso, optou por viver uma vidinha mais simples, em Belo Horizonte:

***
*"Estamos obcecados com "o melhor". ** **
Não sei quando foi que começou essa mania, mas hoje só queremos saber do
"melhor".**
Tem que ser o melhor computador, o melhor carro, o melhor emprego, a melhor
dieta, a melhor
operadora de celular, o melhor tênis, o melhor vinho.**
Bom não basta. **
O ideal é ter o top de linha, aquele que deixa os outros pra trás e que nos
distingue, nos faz sentir importantes, porque, afinal, estamos com "o
melhor".**
Isso até que outro "melhor" apareça e é uma questão de dias ou de horas até
isso acontecer. **
Novas marcas surgem a todo instante. **
**Novas possibilidades também. E o que era melhor, de repente, nos parece
superado, modesto, aquém do que podemos ter.**
O que acontece, quando só queremos o melhor, é que passamos a viver
inquietos, numa espécie de insatisfação permanente, num eterno desassossego.

Não desfrutamos do que temos ou conquistamos, porque estamos de olho no que
falta conquistar ou ter. **
Cada comercial na TV nos convence de que merecemos ter mais do que temos.**
**
Cada artigo que lemos nos faz imaginar que os outros (ah, os outros...)
estão vivendo melhor, comprando melhor, amando melhor, ganhando melhores
salários.**
Aí a gente não relaxa, porque tem que correr atrás, de preferência com o
melhor tênis. *
*
Não que a gente deva se acomodar ou se contentar sempre com menos.
Mas o menos, às vezes, é mais do que suficiente.

Se não dirijo a 140, preciso realmente de um carro com tanta potência?
Se gosto do que faço no meu trabalho, tenho que subir na empresa e assumir o
cargo de chefia que vai me matar de estresse porque é o melhor cargo da
empresa?
E aquela TV de não sei quantas polegadas que acabou com o espaço do meu
quarto?
O restaurante onde sinto saudades da comida de casa e vou porque tem o
"melhor chef"? **
Aquele xampu que usei durante anos tem que ser aposentado porque agora
existe um melhor e dez vezes mais caro?
O cabeleireiro do meu bairro tem mesmo que ser trocado pelo "melhor
cabeleireiro"?**
Tenho pensado no quanto essa busca permanente do melhor tem nos deixados
ansiosos e nos impedido de desfrutar o "bom" que já temos.
A casa que é pequena, mas nos acolhe.
O emprego que não paga tão bem, mas nos enche de alegria.
A TV que está velha, mas nunca deu defeito.
O homem que tem defeitos (como nós), mas nos faz mais felizes do que os
homens "perfeitos".
As férias que não vão ser na Europa, porque o dinheiro não deu, mas vai me
dar à chance de estar perto de quem amo...
O rosto que já não é jovem, mas carrega as marcas das histórias que me
constituem.
O corpo que já não é mais jovem, mas está vivo e sente prazer.
Será que a gente precisa mesmo de mais do que isso?
Ou será que isso já é o melhor e na busca do "melhor" a gente nem percebeu?
"*


" Sofremos demais pelo pouco que nos falta e alegramo-nos pouco pelo muito
que temos. "
(Shakspeare)

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